sexta-feira, 22 de maio de 2009

Seção da Tarde!


Edward Mãos de Tesoura

Peg , uma vendedora de Avon, não está conseguindo vender muita coisa. Ela vive em uma comunidade assustadoramente igual, padronizada na Flórida e conhece todas as mulheres. Assim, se vê no desespero e resolve ir em uma mansão, meio abandonada e assustadora no alto de um morro que fica no final do “condomínio” de casas. Lá, ela encontra um rapaz de nome Edward. Ele, que não é humano e foi criado pelo Inventor, perdeu seu “pai” e passou a viver sozinho no casarão. Edward traz tesouras no lugar das mãos e Peg resolve levá-lo para casa, onde ele passa a enfrentar a beleza e a tristeza de ser diferente.

Primeiro filme (dos atuais seis) da dupla Tim Burton e Johnny Depp, Edward Mãos de Tesoura é um sucesso da Sessão da Tarde no Brasil e está marcado na memória de grande parte da população como um lindo e maravilhoso filme sobre um estranho cara com tesouras no lugar das mãos.

Eu mesmo achava que me lembrava bem do filme até comprá-lo recentemente por 12,90 e assistí-lo, deliciado, em uma parada manhã de sexta-feira. Lembro-me que enquanto assistia,minha mão perguntou "você comprou esse filme?" e nem mesmo esperando minha resposta ela disse "ele é lindo!". E realmente é.
Ao assistí-lo, finalmente entendi porque esse filme não é infantil. Havia anos (talvez uma década) que eu tinha assistido e só agora pude compreender os significados por trás de quase tudo aquilo, o tipo de coisa que crianças deixam passar direto.

Para começar, o bairro de Peg e sua família são padronizados. A imagem que nós temos dos americanos de cabeça fechada. Um bairro reto, com casas iguais (até nas cores: vermelho, verde, amarelo, azul; vermelho…) em ruas iguais. O pai é o trabalhador, a mãe vende Avon para as amigas, a filha viaja com os amigos e com o namorado e o filho brinca feliz no quintal, onde há uma churrasqueira para os finais de semana.
O bairro
O contraste da mansão abandonada onde Edward vive é mais do que evidente. No final da rua de Pen, que é sem saída, acabam as casas bonitinhas e coloridas e começa um morro com grandes e fechadas árvores escuras. A mansão é negra. Porém, seu quintal é recheado de plantas bem cordadas. Até a cor verde do mato lá da mansão é mais viva que o verde do mato do bairro, plastificado, moldado.Isso mostra uma coisa muito óbvia: o diferente. Edward é o diferente e uma sociedade moldada com certeza não saberia viver com isso. Tanto que Peg pega Edward para criá-lo em casa, não para levá-lo ao hospital. É como se não encarassem sua realidade.
A mansão

Pela parte de Edward, segundo o diretor Tim Burton, a idéia das tesouras é trazer a mentalidade infantil para a telona no papel assumido por Johnny Depp. As tesouras representam a criança que não pode encostar em nada, que é afastada do mundo dos adultos. Da mesma maneira, muitas vezes a realidade da criança é ignorada pelos pais que não entendem, nem parecem querer entender, o que está passando pela cabeça de seus filhos. Cada um segue sua vida e pronto. Como diria o Coringa: “Está tudo de acordo com o plano”.

Edward, porém, não poderia deixar de resultar em alguma coisa e tudo começa quando Kim retorna de viagem. Ela é a primeira a ter uma reação real a Edward, enquanto seu namorado, Jim, representa um outro lado da padronização americana: rebaixar e se aproveitar dos menores.
E é quando Edward é acusado indevidamente de invadir a casa de Jim que tudo cai sobre ele. Aí, a maravilha que ele era para todas as mulheres, cortando os cabelos delas e fazendo seus jardins, acaba-se. Até aquela que se jogava em cima dele passou a dizer que havia sido abusada. É o outro lado da moeda, de pessoas que não sabem compreender o mundo.

Edward

A vida de Edward é linda, realmente. O filme é todo lindo.
A atuação de Johnny Depp, que quase te faz esquecer dos outros atores, é de tirar o fôlego. Só deus sabe como ele ficou “fora” do estrelato até Piratas do Caribe, onde chutou Orlando Bloom e assumiu seu papel no topo do panteão hollywoodiano.

Cada uma de suas feições, cada uma de suas meras 169 palavras faladas durante todo o filme são perfeitas. Ele é um ator completo e mostrava isso aqui, já aos 27 anos de idade.
Tim Burton e Johnny Depp têm aqui sua obra-prima, o que eu considero sinceramente o melhor trabalho de ambos e um dos melhores filmes de todos os tempos.

Um fruto de uma mente estranhamente bonita, na qual o belo não quer significar nada com o exterior, mas sim tudo aquilo que guardamos conosco ao terminar de assistir. Perfeito.